sábado, 23 de dezembro de 2006

A ave e as folhas

© 2006 Vinnicius Silva

As folhas secas
Caem da árvore
Caem secas,
as folhas de mármore

No galho sem folhas
Pousa uma ave
Para cantar baixinho
Anunciando uma fase

Esta árvore negra
Deixa folhas no chão
Para cobrir o que é
Nada mais que o seu chão

E aquela ave, coitada...
Que cantava baixinho
Seus cantos sozinha
Agora cai arrasada.

Com o Vento

© 2006 Vinnicius Silva

A menina estava deitada na cama, sozinha no quarto. A janela estava aberta, o céu estava nublado. Olhando para o teto, cheio de estrelinhas pintadas, ela pensava na vida. Não tinha amigos e os poucos que tinha a ignoravam.

O vento suave balançou a cortina da janela, trazendo consigo uma pétala de flor, que pousou em seu rosto. Ao sentir o cheiro, ela se lembrou de um menino que há muito tempo não o via. Ela lembrou que ele havia prometido que a visitaria depois de alguns anos, mas ele nunca cumpriu a promessa.

Levantou-se da cama, saiu do quarto e foi até a sala. Pegou o telefone e tentou ligar para ele, mas o número não existia mais.

Voltou para o quarto e foi à janela. Respirou o ar fresco, fechou os olhos e sentiu a chuva fina que começava a cair. O tempo parou para ela naquele momento.

Quando a menina abriu os olhos, a campainha tocou. Com o rosto e o cabelo molhados, foi atender a porta.

Deparou-se com o sorriso do menininho. A promessa foi cumprida.

FIM

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Caixinha de Lembranças

© 2006 Vinnicius Silva

Certo dia, uma menina, caminhando pela cidade, encontrou duas caixinhas de madeira jogadas no chão. Suas mãos delicadas pegaram uma delas. Pensou se deveria abri-la, pois poderia ser uma brincadeira. Mas resolveu abrir.

A caixinha estava cheia de areia. Ela a esvaziou, jogando toda a areia no chão para ver se encontrava mais alguma coisa nela. Mas havia só areia.

Pegou a outra caixinha, abriu-a e encontrou um bilhete que dizia:

“Entregue a caixinha com areia para o meu velho pai. É a areia da praia onde brincávamos quando eu era pequeno. Se você está lendo isto, é porque eu morri.

Endereço: ...”

FIM

A Moedinha

© 2006 Vinnicius Silva.

Um grupo de amigos estava caminhando no calçadão da cidade. Sentaram-se nos bancos que ficavam em frente a um restaurante e começaram a conversar sobre qualquer assunto. Houve um minuto de silêncio. Alguns olhavam para o chão, outros se olhavam... De repente todos os olhares jovens se voltaram para um menino que estava escorado com as duas mãozinhas no vidro do restaurante. O menino olhava para dentro e parecia estar faminto. Ele via os pratos sendo devorados por todas aquelas pessoas que lá estavam. Pessoas que nem notavam a presença do pobre menino.

O silêncio desapareceu quando um dos jovens disse que precisava ir para casa. O grupo começou a se dispersar por motivos variados. Todos foram embora, apenas uma jovem ficou ali. Ela se dirigiu ao menino, deu uma moedinha a ele e foi embora sorrindo sozinha.

O menino ficou olhando a moedinha na sua mão sem saber o que fazer com ela. Guardou-a no bolso e voltou a olhar para dentro do restaurante.

FIM

À Espera da Menina

© 2006 Vinnicius Silva

O menino embarcou no ônibus acreditando que a menina também embarcaria. O ônibus permaneceu parado por alguns minutos, esperando os últimos passageiros, mas a menina demorava a chegar.

De repente ele a viu se aproximando. Ele esgueirou-se no banco e puxou a cortininha para observá-la. Ela estava lá... Mas apenas para avisar ao guia da viagem que não iria mais. Ela simplesmente não embarcou. Foi embora.

Um impulso começou a tomar conta do menino, mas ele não teve coragem de descer.

Ele partiu e sua vida ficou para trás.

FIM?

O Olho do Céu

© 2006 Vinnicius Silva

Quase além do horizonte, avistei a embarcação. Pensei que ela chegaria depois do pôr-do-sol, mas ela superou minha expectativa. O olho do céu já estava encostado na água, o céu estava avermelhado e algumas nuvens completavam a paisagem. Eu estava no alto de uma pequena elevação, perto do mar, olhando para o barco que se aproximava. Apanhei minha espada cravada na grama e desci em direção a praia.

O barco tocou a areia e parou. Notei que não havia ninguém lá, nem um vestígio de alma naquele barco. Corri, com a água até a canela, em direção a ele para verificar melhor. E não havia ninguém mesmo.

Logo, o sol mergulhou no mar, as estrelas tornaram-se visíveis e a lua refletiu na lâmina da minha espada. Eu estava sozinho. Ninguém voltaria para me buscar.

Fiquei ali olhando para o escuro imenso do mar, esperando o olho do céu emergir. Talvez ele, o sol, poderia me notar.

FIM?

O Apartamento Escalafobético.

© 2006 Vinnicius Silva

Num apartamento de um prédio do centro da cidade, morava um homem só. Ele era tachado de louco por alguns, mas para outros ele era uma boa pessoa. Os vizinhos mais próximos reclamavam do barulho que ele fazia à noite. Diziam que era impossível agüentar aquele barulho horrendo.

Certo dia ele resolveu se mudar. Ninguém ficou sabendo o porquê. Ele simplesmente foi embora.

Nos dias seguintes, os moradores sentiram a falta daquele homem estranho. Começaram a acordar mais cedo, não precisaram mais levantar no meio da madrugada para dar vassouradas no teto, no piso ou nas paredes...

Os dias se passaram e não se falou mais sobre o homem. Não havia mais assunto nas conversas de corredor. Ninguém mais comentou sobre o ele. Seu apartamento estava vazio.

O prédio virou um tédio.

FIM

O Menino e a Menina

© 2006 Vinnicius Silva

Era uma vez uma menina que tinha vergonha de sair de casa. Certo dia a campainha de sua casa tocou. Era um menino. Sozinha em casa, a menina foi até a janela e espiou por uma fresta. Avistou o menino que já estava impaciente. Ela foi até a porta, seu coração começou a bater mais forte, e a abriu.

O menino ficou em silêncio olhando para a menina, assim como ela também ficou. Depois de alguns segundos o menino foi embora sem dizer nada. A menina fechou a porta, foi até a fresta da janela e ficou observando o menino. Ele estava chorando.

FIM?

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