terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Roda, roda, roda...

© 2009 Vinnicius Silva da Rosa


A baiana desceu do táxi com um cigarro na mão e uma bolsa horrível no braço esquerdo. Postou-se ao lado do veículo. Olhou para o nada e acendeu o seu cigarro. Virou-se, colocou os óculos escuros e foi em direção à porta do hotel. Passou pela porta giratória e continuou a caminhar. De repente, percebeu que estava indo em direção ao táxi que acabara de descer. Lá dentro, o recepcionista do hotel ria escalafobeticamente ao vê-la atrapalhada. Irritada, ela correu, seus cabelos se armaram, seu rosto ficou vermelho, conseguiu entrar no hotel e foi raivosa até o homem que ria dela desvairadamente.

Ela explodiu o balcão com uma pancada.

- Qual é o seu problema? – Ela gritou.

Ele não conseguia parar de rir.

- Eu tenho cara de Tiririca? – Continuou.

- É que foi tão engraçado!

- O que foi engraçado?

- Você girou, girou, girou e foi para o lado errado! Parecia um ventilador com esses cabelos!

A mulher jogou o cigarro no chão, apagou-o com o pé, encarou o balconista e falou:

- Um quarto, por favor.



domingo, 4 de janeiro de 2009

Os três meninos.


© 2009 Vinnicius Silva da Rosa


- Corre, corre!

- Ele vai nos alcançar!

Os dois amigos pularam a cerca de arame, levantando poeira do outro lado. O cachorro latia e babava raivoso. Correram pelas folhas secas até chegarem próximos à ponte que dava acesso à vila em que moravam. Sentaram-se, para descansar, na grama fresquinha, sob a sombra agradável das árvores do bosque.

- Está aqui...

- Quero ver, deixe-me ver!

- Espere, vou limpar!

- Ai, dê-me isso aqui!

Ele correu, limpou-a nas águas do rio e voltou.

- É lindo não é?

- É o meu reflexo.

Levou um soco leve no braço.

A dupla observava encantada a pedra brilhante que acabara de roubar. Era um diamante da mansão. O diamante da casa do velho senhor. A casa era branca, de madeira, cercada pelo bosque. Possuía um ar de mistério, mas era bem cuidada.

A pedra estava guardada no coração da casa Roubaram uma pedra que brilhava. Mas os olhos deles brilhavam mais do que o próprio diamante.

- Peguei vocês!

O velho levantou os dois pelas camisetas e gritou novamente:

- Devolvam-me o que vocês roubaram de mim!

Os dois gritavam de medo do velho, dando passos em falso no ar, nem conseguiam responder. Nem queriam. Estavam com medo, só queriam correr.

O senhor largou-os no chão e o diamante saltou do bolso de um dos meninos.

- O que é isso! Além de tudo roubaram o meu diamante! Isso não levará vocês dois a lugar nenhum! Eu tenho muito dinheiro, mas não tenho o mais importante. Não tenho mais esse brilho que vejo nos olhos de vocês, jovens. Olhos de pessoas sonhadoras, que ainda acreditam em um mundo que valha a pena. Eu não estou atrás do diamante. Se quiserem podem ficar! O que eu quero é a felicidade. A inocência, os sonhos que não realizei! Tive muitas pedras no caminho. Eu quero o brilho da minha vida de volta.




quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A Ideia

© 2009 Vinnicius Silva da Rosa


Em certos momentos, as pessoas tem ideias um pouco malucas. O menino desceu a ladeira freneticamente, pedalando como se quisesse voar. Usava duas asas nos braços, feitas de lençóis e de madeira leve. À frente, existia um rio com uma tábua formando uma ponte improvisada. E o menino pedalou, pedalou... A tábua rodopiou e saltou dois metros de altura, caindo, depois, nas águas profundas... Ele conseguiu passar. Largou a sua bicicleta em frente ao casebre e bateu na porta. Insistiu... Ninguém deu sinal de vida. Tentou espiar pela janela, mas o reflexo não permitia revelar nada do que se passava lá dentro. Ergueu os braços: “Ai dento!”. Reforçou: “Essa porta, um dia, eu arrebento”. Ao voltar, caiu na vala.




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